Discurso proferido pelo autor: "Boa noite a todos! Eu costumo dizer que o escritor é um sujeito que vive falando sozinho, mas que tem o hábito de anotar o teor da conversa e sair por aí mostrando a todo mundo. O poeta, por sua vez, é mais que um simples escritor. O poeta é um transgressor, por natureza. Nesta noite, ouvimos algumas falas aqui que utilizaram a figura da flor como metáfora em relação à poesia e eu, aproveitando o mote, não farei diferente, até por uma questão de coerência. O mundo em que vivemos é um lugar que reconhece a beleza de uma flor e aprisiona suas cores em outdoors para vender isso e aquilo. Os jardins deste mundo, contudo, são cercados para preservar a flor e cheios de placas de advertência recomendando distância, porque flores têm espinhos. O poeta é um transgressor que faz parte de uma resistência contra esse modo de tratar as coisas. O poeta promove guerrilhas que cometem atentados com palavras: os poemas. Os poemas servem para relatar os muros e cercas que foram saltados; os poemas servem para alardear as placas de advertência que foram ignoradas; os poemas servem para expor com orgulho os arranhões, rasgos e cicatrizes obtidos no contato com as flores porque, de fato, elas têm espinhos. Contudo, a poesia não seria tão nobre fosse só por tais atos de rebeldia e bravura. A poesia conta do cheiro da terra; a poesia fala da maciez das pétalas e - aí sim, o que dá real sentido à vida do poeta- a poesia canta o doce perfume da flor. Obrigado!"